sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Monitorando o Céu - BRAMON!!!

O OCA possui duas estações de monitoramento do céu. Essas estações estão ligadas a rede brasileira de monitoração de meteoros (http://www.bramonmeteor.org/).



 A ideia básica dessas estações é manter uma câmera apontada para o céu e filmando. 


Sempre que ocorrer uma alteração brusca na imagem capturada (como a queda de um meteoro, um raio e etc) a imagem que estava sendo registrada é então armazenada em um computador e posteriormente enviada a Bramon. 

Todo esse processo é feito usando câmeras de segurança modificadas (a modificação é simples, mas é necessária para poder registrar o infra-vermelho emitido pelos meteoros), um computador, uma placa de captura e um software chamado UFO Capture (responsável por analisar as imagens capturadas). O custo de montar uma estação é baixo e proporciona ótimas emoções. =)



Posteriormente essas imagens capturadas são analisadas pelo operador da estação, no caso eu. Caso seja detectado algum evento interessante (como um meteoro, raio cósmico ou sprite) eles são então analisados usando um software chamado UFO Analyser.

 Esse software possibilita o calculo da trajetória do evento. Caso ocorra o pareamento (duas ou mais estações detectando o mesmo evento) é possível então traçar a trajetória com precisão e inclusive é possível calcular a provável orbita do meteoro. Exemplo do calculo de uma orbita capturado pela estação OCA e DLM:

 


É possivel também usar uma grade de difração na frente da camera e assim conseguir capturar espectro do meteoro. Com isso é possivel analisar a composição dos meteoros. 

Além dos meteoros é possível também capturar outros eventos interessantes, como os sprites. Tais eventos são muitos raros e ainda pouco compreendidos. Essas capturas são uma mina de ouro para a realização de estudos sobre tais eventos.




quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Milhões de Estrelas em um Pontinho no Céu

Esse foi o primeiro objeto de céu profundo que observei (na época com um 90mm) e continua sendo um dos meus favoritos.

47 Tucanae está localizado na constelação do Tucano, a cerca de 16,700 anos luz de distancia da terra. Ele pode ser observado olhando-se para o sul celeste, próximo da galáxia Pequena Nuvem de Magalhães.

Ele é um aglomerado globular localizado na nossa galáxia e é formado por milhões (isso mesmo, MILHÕES) de estrelas. Ele é um dos mais massivos e possui um centro muito brilhante e denso.

Ele possui uma magnitude de +4, ou seja, é visível a olho nu em um céu sem muita poluição luminosa. Por parecer uma estrela no céu noturno, ele acabou sendo catalogado inicialmente como uma estrela.






Sempre me assusto quando olho para ele a noite e penso que ali, naquele pontinho, estão milhares de estrelas. Isso me lembra de o quanto somos pequenos e esse é um dos motivos de eu amar a astronomia. =)

terça-feira, 29 de novembro de 2016

A Primeira Captura do OCA

Tirei minhas ferias de 2016 para preparar o OCA.
No inicio de setembro o observatório começava a tomar forma.

Assim que consegui instalar o telescópio no lugar e fazer todos os alinhamentos necessários, (balanceamento da montagem, colimação do OTA, ajuste de foco das câmeras, alinhamento polar, alinhamento do guide, fios e por ai vai ....) eu decidi fazer uma captura para ter uma ideia de como tudo ficou.

Já era tarde da noite e então eu comecei a observar o céu para encontrar um objeto adequado.
Na hora que vi as 3 Marias no céu, não tive duvidas, pensei: "Vou capturar a nebulosa de Orion!!!"

Essa é uma nebulosa linda, com um conjunto de tonalidades incrível (inclusive um verde azulado intenso). Além disso, ela tem uma magnitude +4, o que a tornada uma das nebulosas mais fáceis de visualizar.

Devido ao tamanho aparente da nebulosa, ela não cabe em um único frame do equipamento atual do OCA. Assim optei por realizar a captura apenas da sua parte central.


Segue o resultado:



Fiquei muito feliz com o resultado da primeira captura do OCA. =)



quarta-feira, 23 de novembro de 2016

A Superlua de 14/11/16

No começo de novembro eu estava de ferias e fui visitar o OCA. Aproveitei para fazer algumas manutenções e ajustes finos.
Aproveitei a data para registrar a super lua do dia 14/11/16. Essa foi a maior super lua dos últimos 70 anos (conforme noticiou a impressa).

Infelizmente o céu estava muito nublado e consegui fazer poucos frames e ainda entre as nuvens. Mas o resultado ainda ficou bacana.

Esse registro foi feito a partir de 52 frames tirados com uma camera Canon t1i acoplada a um telescópio Sky Watcher 254mm de abertura F4.7 em uma base equatorial.
Esses 52 frames foram processado usando o software PIP e depois empilhados usando o software "AutoStakkert! 2".


Segue o registro:






terça-feira, 22 de novembro de 2016

Detalhando a Construção de um Telhado do Tipo Deslizante

  

Acho que a maior duvida na hora de construir um observatório é a construção do telhado. No primeiro post sobre a construção de um observatório eu dei uma explicação mais simples de como construir o telhado. Já nesse post eu pretendo entrar em mais detalhes técnicos da construção do telhado deslizante (roll-off roof).


Vamos começar!!!


O ponto mais importante da construção é definir para qual lado o telhado vai abrir (isso também vai influenciar na construção das paredes e etc). O próprio telhado o observatório acaba atrapalhando a visão do céu. Assim, para maximizar a quantidade de céu observável, o ideal é que o telhado abra no sentido leste -> oeste ou oeste -> leste. Dessa forma você terá a melhor visão possível dos lados norte e sul.

Explicando um pouco melhor: imagine um telhado aberto e estacionado do lado oeste ou leste, nessa configuração o telhado não vai atrapalhar a visão dos objetos do lado norte e sul do observatório. E dado que os objetos celestes parecem se mover de leste para oeste (de acordo com os movimentos da terra), durante a noite será possível ter visada de todos os objetos (lembrando que esses objetos também variam de acordo com a épocas do ano).

Muitas pessoas utilizam madeira para a construção do telhado. Contudo, hoje em dia a construção com ferragem está saindo mais em conta. Se tornando assim uma boa opção. Optei por fazer o telhado do OCA utilizando ferragem.


  
Após realizada as medidas das paredes do observatório, foi construído uma estrutura para servir de trilho. Essa estrutura foi soldada na parte superior das paredes do observatório. Esse trilho se estende além das paredes do observatório, sustentando assim o telhado quando ele está aberto. 


O trilho sendo colocado e soldado nos ferros das paredes:


Dessa parte estendia descem pilares de ferro que estão apoiados na laje da construção (também é possível usar travas francesas para realizar esse poio).



Foi construído uma estrutura de ferro em formato retangular sobre 4 roldanas. Essa estrutura foi coberta com telhas de alumínio e foi posicionada sobre os trilhos do observatório.


Trilho e roldanas:






Nos lados paralelos ao movimento de abertura do telhado e também na parte de “trás” do telhado (ver a figura abaixo), é importante que a cobertura do telhado seja um pouco maior que as paredes do observatório (como se fosse uma espécie de saia, que cobre a parede). Dessa forma a cobertura de sobrepõem as paredes do observatório, ficando este bem protegido das chuvas e poeira.

Essa "saia" deve ser recortada na parte de "trás" para permitir a passagem do trilho do telhado.

Do lado de “frente”, o telhado deve se estender um pouco mais, dessa forma criando uma proteção contra chuva.


Parte da frente:


De trás:


Com o uso das saias, é possível também diminuir o tamanho das paredes laterias e assim maximizar o campo de visão. Contudo, fazendo isso o telescópio vai ficar mais exposto aos ventos (no OCA eu não fiz assim pois tenho muitos problemas com ventos fortes).




Para o caso de abertura manual do telhado, é importante construir suportes para prender o telhado aos trilhos. Uma opção simples é usar para isso cadeados. Com isso o telhado não vai sair voando em uma ventania. 

Outra opção é fazer o telhado correr dentro tubos de ferro ou usar um mecanismo em formato de "C" como o da figura abaixo:


O OCA usa esse mecanismo e ainda fica travado também por dois motores elétricos. Um de cada lado. Além disso, foram instaladas duas travas elétricas (para evitar aberturas não autorizadas). Dessa forma o telhado fica bem travado.

Trava elétrica: 


O telhado pode ser facilmente automatizado. Para isso você pode usar motores de portão. Pode ser usado um motor ou dois. Isso vai depender do peso da sua estrutura.

Usando dois motores eles devem trabalhar sincronizados. Qualquer bom instalador de motor de portão sabe realizar essa configuração.

No caso do OCA foram utilizados dois motores para portões basculantes.  A vantagem de usar o motor do tipo basculante é que o telhado fica preso ao motor. Isso também ajuda a evitar que ventos levantem o telhado.



Outra opção é usar motores com cremalheira.



É importante também solicitar ao instalador do portão que configure um fio para acionar o motor usando um botão. 


Basicamente é um par de fios que quando são encostados um no outro o portão abre/fecha. Isso possibilita a você automatizar a abertura do telhado usando um rele (vamos ver como fazer isso nos próximos posts).

No caso do OCA eu também instalei um sensor fim de curso. Quando o portão fecha ele movimenta uma aste do sensor. Com isso eu posso monitorar se o portão esta aberto ou fechado via PC. Também vou explicar como isso funciona nos próximos posts.

Sensor fim de curso acionado (portão fechado):




segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Se divertindo no Escultor


Se divertindo no Escultor


Com a montagem recente do OCA eu me deparei com o céu de setembro de 2016.

Analisando o céu desta data eu decidi capturar algumas galáxias próximas a constelação do escultor (a configuração atual do OCA tem uma visão melhor dos objetos localizados próximos ao sul celeste).

Algumas dessas galáxias formam o Grupo do Escultor. Até agora eu registei 3 galaxias da região: NGC 253, NGC 55 e NGC 300.

O Grupo do Escultor é um grupo de galáxias perto do pólo sul galáctico. O grupo é um dos mais próximo ao Grupo Local; a distância da Via Láctea para o centro do grupo é de aproximadamente 3.9 Mpc.

A Galáxia do Escultor (NGC 253) e outras galáxias são os limites gravitacionais no centro do grupo. Outras galáxias na periferia podem estar associadas, mas não são os limites gravitacionais do grupo. Como muitas das galáxias neste grupo estão fracamente ligadas pela gravidade, ele aparenta ser um longo filamento.

A galáxia irregular NGC 55, a galáxia espiral NGC 300 e suas companhias têm sido consideradas como membros deste grupo. Contudo, foram medidas recentemente as distâncias para estas galáxias na região do céu de NGC 55, NGC 300 e companheiras, demonstrando que estas não estão associadas fisicamente ao Grupo do Escultor (fonte wikipedia).

Vamos aos registros.


A primeira foi a NGC 253. Essa foi a mais fácil das 3, pois tem magnitude visual de +7.07.  Ela é uma galáxia espiral barrada que esta em uma posição "meio de lado" para nós. Assim ele lembra um charuto. Contudo, ainda é possível perceber a espiral.

No registro é possível observar o centro bem amarelado (devido a estrelas  mais antigas do centro da galáxia). Também é possível notar uma pequena (em relação a foto, pois essa galáxia pode ser enorme e apenas estar muito mais distante) galáxia de magnitude +16,13 (PGC 198197) no canto inferior da foto.



A segunda foi a NGC 55. Essa galáxia possui uma magnitude +7.84, tonando a sua captura um pouco mais difícil do que a da NGC 253.

Essa também é uma galáxia barrada, mas é do tipo irregular. Creio que a parte mais amarelada do registro seja o bojo da galáxia, mas devido ao tipo e a posição da galáxia em relação a nós ela não apresenta uma forma tão vistosa.

Contudo, se você observar com calma o registro vai perceber diversas pequenas galáxias ao redor. Algumas dessas galáxias possuem magnitude de quase +18.  Fica legal comparar esses registro como o feito pelo telescópio ESO (veja aqui).




A última (até agora) foi a NGC 300. Com magnitude 8,17 essa é foi a mais difícil de registrar. Devido a esse um pontinho a mais de magnitude, foi necessário mais que o dobro do tempo para conseguir um resultado parecido com o dos outros registros. Mas valeu a pena cada segundo.

A NGC 300 é uma galáxia espiral (não barrada) e esta quase “de frente” para nós, mostrando assim toda a sua beleza.

É possível ver o centro mais amarelado (formado por estrelas mais antigas), a borda mais azulada (formada por estrelas mais jovens) e também algumas manchas vermelhas. Acredito que essas manchas sejam formações de gases e poeiras dentro da galáxia.



Agora estou aguardando o céu melhorar para iniciar novos registros.

Obs: sou apenas um astrônomo amador e acima de tudo um curioso. Caso encontrem alguma informação equivocada no post, por favor, postem nos comentários. Vou ficar feliz em aprender também. Grato.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Construindo um Observatório Amador


Apesar de meus conhecimentos técnicos serem limitados, eu consegui projetar e construir com sucesso um observatório amador capaz de ser utilizado remotamente.

Em toda essa jornada poucas vezes eu encontrei um material em português que me auxiliasse nessa tarefa. Então decidi detalhar um pouco os desafios encontrados e algumas soluções possíveis.

Espero que esse material seja útil para outras pessoas que também tenham interesse em realizar o sonho de construir um observatório amador.

Nesse post eu pretendo dar uma introdução mais geral à construção.
Em posts futuros vou entrar nos detalhes da construção do telhado e do hardware e software envolvidos na automação do observatório.

Bom, vamos começar...



Vantagem de se ter um observatório



A grande vantagem de ter um observatório é poder deixar o equipamento (telescópio, câmeras e etc) sempre montados e prontos para uso.

Imagine uma EQ6 com um OTA 10", uma configuração dessas pesa entorno de 50kg. Transportar, montar, alinhar todo esse equipamento a cada sessão de astrofotografia é uma tarefa enfadonha. Isso acaba desmotivando a realização de sessões de observação.

Poder deixar esse equipamento montado em um local seguro e totalmente pronto para uma sessão de observação facilita muito.

Além disso, é possível com o tempo alcançar um alinhamento próximo da perfeição. Isso torna seus resultados ainda mais promissores.


Tipo de observatório



Existem vários tipos de observatório, mas os mais comuns são o observatório em cúpula (dome) e o telhado deslizante (roll-off roof).

O observatório em cúpula é mais caro e mais complexo. Contudo tem a vantagem de conseguir observar uma região maior do céu (principalmente as próximas do horizonte) e ainda manter os equipamentos mais protegidos, pois para a observação com ele é necessário abrir apenas uma pequena "portinhola".

A maior complexidade vem do fato de você precisar manter a tal "portinhola" alinhada com o posicionamento atual do telescópio. Isso envolve a utilização de um hardware+software capaz de se comunicar com a base do telescópio e comandar motores de forma a posicionar a cúpula no local correto.

Hoje no brasil existem alguns fabricantes de cúpulas. Vale a pena fazer um orçamento com eles para se ter uma ideia dos valores e da possibilidade de construir um desses para você.




O tipo telhado deslizante tem a construção e operação mais simples. Basicamente é um telhado sobre trilhos que pode ser aberto manualmente, ou através de um motor elétrico (desses de abrir portão elétrico residencial). A desvantagem desse esquema é que você basicamente perde a visibilidade do céu em altitudes proximas ao horizonte. Isso por que o telescópio fica rodeado pelas paredes do observatório.

É possível porem construir alguns mecanismos para diminuir essa perda do céu. Um deles é construir paredes que também se abram, ou um pilar que eleve o telescópio, ou ainda aumentar a área de construção do observatório (diminuindo assim o ângulo formado entre o telescópio e as paredes). Contudo, nesses casos o vento pode acabar sendo um problema, pois o telescópio passar a ficar mais exposto ao clima local.

Outro ponto negativo do telhado deslizante  é que com o telhado todo aberto todos os equipamentos do observatório estão expostos as intemperes do clima local.

O OCA é do tipo telhado deslizante.  Então a partir de agora vamos nos concentrar na criação desse tipo de observatório.





A escolha do local



Uma das coisas mais importantes para a construção do observatório é a escolha do local. Um bom local de observação deve possuir um céu sem muitas obstruções, com baixa poluição luminosa (PL), ambiente mais seco e com pouca incidência de ventos. Mas nem sempre é possível encontrar um local assim a disposição.


A PL (normalmente encontrada em grandes cidades) é uma inimiga mortal da astrofotografia. Quando um céu possui muita PL é complicado realizar exposições de longa duração (que são necessárias para captura de objetos de céu profundo). A PL também é capturada nas fotos e basicamente o céu que deveria ser escuro, acaba se tornando branco. Existem filtros capazes de barrar a PL. Eles não são a solução ideal, mas podem ser uma opção para quem não tem como mudar o local da observação.

As astrofotografias planetárias sofrem menos com a PL, pois no geral os objetos observados são mais luminosos e os frames são tirados em curtas exposições. Assim a PL fica menos evidente. Essa categoria de astrofotografia é muito indicada para quem vai realizar astrofotografia em uma área urbana densamente povoada.

Mas voltando ao assunto do local do observatório, um bom teste inicial é levar um telescópio até o local desejado e realizar uma sessão de observação ali. Isso vai  permitir a você entender os problemas e a qualidade do céu que você vai encontrar ali.

Esse local pode ser a sua casa, seu quintal, alguma propriedade rural da família e etc.

Muitas pessoas constroem o observatório na própria casa (ótima opção se você mora em uma cidade pequena com baixa PL). Isso é interessante, pois você vai ter grande facilidade em manipular os equipamentos do observatório. Além disso, o nível de automação do observatório pode ser drasticamente reduzido, pois você vai estar ali presente, podendo assim operar os equipamentos e realizar ações as ações necessárias. Ex: abrir o telhado do observatório, fechar o telhado em caso de chuva, focalizar manualmente as câmeras e etc.

A desvantagem dessa opção é que além da PL, muitas vezes existe um telhado seu ou do vizinho que vai "tampar" boa parte do seu céu. Limitando assim o que você pode ver.

Outra opção é construir o observatório em um local remoto. De preferencia afastado de grandes centros urbanos. São nesses lugares que você vai conseguir os melhores resultados na astrofotografia.

Essa opção pode se dividir ainda em duas:

  •       Pode ser um local afastado, mas que você pode visitar facilmente (ex: uma chácara próxima da sua casa). 
  •           Ou pode ser um local afastado que você só vai poder visitar de tempos em tempos.

No primeiro caso você pode construir o observatório com pouca automação. E pode utilização estando fisicamente no observatório.

Mas no segundo caso será necessário automatizar todo o observatório. Pois ele terá de ser capaz de ser operado remotamente. Esse é o caso do OCA e vamos nos concentrar nesse caso.


Planejamento



Definido o local do observatório, é hora de planejar e realiza a construção.
Vou apenas passar algumas dicas importantes que você deve levar em consideração na hora da construção. Caso contrario poderá ter que refazer muita coisa.


Fundação
 


A fundação do observatório deve ser bem reforçada. Principalmente se ele for construído no segundo andar. Um piso frágil pode apresentar vibrações, o que pode complicar as observações. Além disso, é comum ter varias pessoas (curiosos) ao mesmo tempo ao redor do telescópio.

No caso do OCA foram construídas varias estacas de 4 metros de profundidade no piso térreo (estacas de concreto e ferro). Essas estacas servem para criar uma fundação consistente.

A laje do segundo piso também foi reforçada com varias camadas extras de vergalhão. Uma camada extra de cimento também foi utilizada. Além disso, foi escolhido um local onde uma parede do primeiro andar atravessa todo centro do observatório, criando assim uma sustentação extra no centro da construção. Foi criada uma coluna reforçada embaixo de onde o telescópio vai ficar (isso é importante para evitar vibrações; se possível, o ideal é isolar essa coluna do resto da construção). Essa coluna foi construída com 4 metros abaixo do piso térreo. Isso é muito importante e deve ser projetado e construído com atenção (problemas de vibração podem inviabilizar o uso do observatório).

Outra questão importante é deixar um tubo para passar a fiação que sai do telescópio. O ideal é que esse tubo seja fixado sob o piso. Ele deve começar próximo ao pilar ou tripe e deve conduzir os fios até próximo ao computador do observatório. Dessa forma o chão do observatório fica livre de fios e você vai poder andar ao redor do telescópio sem problemas.

Pilar ou Tripe



Com relação ao telescópio, você pode escolher deixar o telescópio no tripe original ou então utilizar um pilar.

A vantagem do tripé é que você pode realizar com facilidade pequenas mudanças de posição do telescópio. A desvantagem é que o tripé ocupa um espaço maior do observatório e ainda sempre existe a possibilidade de alguém esbarra no tripé e desalinhar o telescópio.

É importante definir qual será a escolha antes de iniciar a construção, pois depois de construído fica mais complicado instalar um pilar no observatório.

No caso do OCA, eu utilizei um pilar. O pilar foi construído pelo Edson Garcia. Na construção do pilar você deve levar em consideração à altura das paredes do observatório.

O ideal é que a altura máxima do seu pilar+montagem+telescópio seja um pouco menor que o pé direito do observatório. Com isso você evita problemas de choque do telhado com o telescópio.

Mas você pode escolher deixar o telescópio mais alto que as paredes. Nesse caso você vai precisar sempre garantir que o telescópio esta em uma posição segura antes de fechar o telhado. É possível fazer isso usando alguns sensores instalados na montagem.

Também é importante projetar um pilar que possa facilmente ser adaptado para outras montagens. Pois é comum com o tempo você trocar seus equipamentos. Então é importante que o pilar seja bem construído (bem solido) e que a parte superior do pilar possa ser substituída para se adaptar a diferentes montagens. O pilar do OCA foi construído dessa forma.

Caso seja escolhido a utilização de um pilar, durante a construção do piso do observatório é necessário “chumbar” uma estrutura metálica para posterior fixação do pilar.

No caso do OCA foi confeccionada uma placa de ferro de 3mm  de espessura medindo 35x35cm. Nessa placa foram soldados 4 barras de rosca sem fim de meia polegadas. A placa foi inserida na construção da laje de forma que apenas as 4 barras ficaram expostas no piso. 

Essas barras meia polegadas são utilizadas para fixar o pilar. É importante notar que os furos do pilar (onde as barras de meia polegada vão entrar) são dependentes do alinhamento polar. Assim é preciso bolar uma estrategia para furar o pilar de forma a conseguir posteriormente um bom alinhamento polar.



O ponto vermelho deve ser instalado apontando para o polo sul celeste. O ajuste fino é feito posteriormente na cabeça da montagem.





Paredes



A altura da parede do observatório no geral é menor do que uma parede de construção normal.

A altura das paredes do observatório deve estar relacionada com o tipo de observação que se pretende fazer no observatório, ao tipo e tamanho do telescópio e também a altura dos usuários do observatório.

Como exemplo, podemos idealizar as paredes para um observatório de observação visual usando um telescópio Newtoniano de 1200mm de distancia focal. Considerando pessoas com 1,80m de altura, o ideal é que as paredes tenha ~1,85m. Pois o ideal nesse caso é que o pilar seja o mais baixo possível, deixando o OTA mais baixo e facilitando a observação. Mas a parede também tem que ser alto o suficiente para a pessoa de 1,80 entrar sem muito problema.

Contudo, se a ideia é fazer astrofotografia, você pode fazer paredes um pouco mais alta (~2m para o exemplo anterior). Você compensa essa altura construindo um pilar mais alto.

As paredes do OCA tem aproximadamente 2m. O pilar utilizado é um pouco mais alto que o tripé original (na posição mais baixa). O conjunto pilar+montagem+ota fica a poucos centímetros mais baixo que a parede. É importante deixar um pouco de folga, pois no futuro você pode querer usar um telescópio maior.

Também é possível construir uma plataforma ao redor do telescópio para facilitar a observação visual.

As paredes também devem ser bem reforçadas (pode ser de madeira, alvenaria, metal, etc), pois é comum furarmos as paredes para "pendurarmos" diversos equipamentos no observatório (ex: câmeras de captura de meteoros, câmeras all sky, centrais meteorológicas, alarmes e etc).

No caso do OCA, na parte de cima da parede eu deixei a ferragem exposta. Nessa ferragem exposta foram soltados os trilhos onde o telhado corre.



Parte elétrica



O ideal é ter um disjuntor especifico para o observatório. Também é importante criar um bom aterramento e se possível instalar dispositivos para conter surtos elétricos (ex: Clamper).

É importante escolher uma posição para deixar os equipamentos eletrônicos do observatório (PC, nobreak, equipamentos de rede e etc). Nessa posição é interessante construir varias caixas para abrigar as tomadas.

Como o telhado vai abrir, as luzes devem ser fixadas nas paredes laterais. Pode ser usada aquelas luminárias tipo tartaruga (para o caso de observações visuais, pode se pintar essas luminárias de vermelho, diminuindo assim o impacto da luz no olho humano). O ideal é ter pelo menos duas luminárias em paredes opostas. Assim a iluminação vai preencher todo o ambiente.





Telhado


Muitas pessoas utilizam madeira para a construção do telhado. Contudo, hoje em dia a construção com ferragem está saindo mais em conta. Se tornando assim uma boa opção. Optei por fazer o telhado do OCA utilizando ferragem.



É importante definir para qual lado o telhado vai abrir. O  próprio telhado o observatório acaba atrapalhando a visão do céu. Assim, o ideal é que o telhado abra no sentido leste -> oeste ou oeste -> leste. Dessa forma você terá a melhor visão possível dos lados norte e sul. O telhado ficando do lado oeste ou leste não atrapalha tanto a visão, pois os objetos celeste parecem se mover de leste  para oeste de acordo com os movimentos da terra. Assim durante a noite é possível  ter visada de todos os objetos (variando também em diferente épocas do ano).

Apos realizada as medidas das paredes do observatório, foi construído uma estrutura para servir de trilho. Essa estrutura foi soldada na parte superior das paredes do observatório. Esse trilho se estende além das paredes do observatório, sustentando assim o telhado quando ele está aberto. Dessa parte estendia descem pilares de ferro que estão apoiados na laje da construção (também é possível usar travas francesas para realizar esse poio).

Foi construído uma estrutura de ferro em formato retangular sobre 4 roldanas. Essa estrutura foi coberta com telhas de alumínio e foi posicionada sobre os trilhos do observatório.

É importante que o telhado seja um pouco maior que as paredes do observatório, protegendo assim observatório das chuvas.

Para o caso de abertura manual do telhado, é importante construir suportes para prender o telhado aos trilhos. Pode ser usados para isso cadeados. Com isso o telhado não vai sair voando em uma ventania. Outra opção é fazer o telhado correr dentro tubos de ferro.

No caso do OCA o telhado fica travado pelos dois motores elétricos. Um de cada lado. Além disso, foram instaladas duas travas elétricas. Dessa forma o telhado fica bem travado.










O telhado pode ser facilmente automatizado. Para isso você pode usar motores de portão. Pode ser usado um motor ou dois. Isso vai depender do peso da sua estrutura.

Usando dois motores eles devem trabalhar sincronizados. Qualquer bom instalador de motor de portão sabe realizar essa configuração.

No caso do OCA foram utilizados dois motores para portões basculantes.  A vantagem de usar o motor do tipo basculante é que o telhado fica preso ao motor. Isso evita que ventos levantem o telhado.




Outra opção é usar motores com cremalheira.

É importante também solicitar ao instalador do portão que configure um fio para acionar o motor usando um botão.


Basicamente é um par de fios que quando são encostados um no outro o portão abre/fecha. Isso possibilita a você automatizar a abertura do telhado usando um rele. Vamos ver como fazer isso nos próximos posts.





























segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A construção de um sonho


Quando eu era criança eu adorava assistir aos programas da TV que passavam alguma coisa relacionada à exploração do universo.  Lembro-me de babar vendo os programas da TV cultura e de sonhar em estudar astronomia um dia, mas infelizmente meus caminhos acabaram seguindo outros rumos.

Um dia, estávamos eu e meu pai pescando (ou tentando pescar) a famosa Piraiba. Estavamos no meio do rio Araguaia, em uma noite sem lua e com o céu sem uma nuvem.


Deitados ali na canoa, olhando para cima, presenciamos um grande meteoro rasgar o céu e deixar um enorme rastro de fogo. Foi ali que novamente minha paixão pela astronomia foi despertada.  Desde esse dia eu busco entender cada vez mais o universo que nos cerca.

Nessa busca de conhecimento eu acabei me envolvendo com a astrofotografia e após algum tempo realizando astrofotografia em um céu repleto de poluição luminosa (como é o centro do Rio de Janeiro, onde moro), eu tive a ideia de criar um observatório em um local afastado.

A escolha natural foi a minha terrinha natal Bilac. Localizada a 550km de São Paulo capital. Após poucos testes ficou claro que o céu de Bilac era realmente uma excelente opção.

Passei então a pesquisar, adquirir e desenvolver (em muitos dos casos) os equipamentos que seriam necessários para controlar o observatório de forma remota (a uma distancia de 1100km de distância).

O orçamento era apertado e no Brasil não existe nenhum incentivo a astronomia, assim cada detalhe da construção do observatório teve de ser cuidadosamente pensado e escolhido.

Depois de muito planejamento e implementação o Observatório Campo dos Amarais (OCA) iniciou suas atividades em setembro de 2016.

Desde então essa tem sido uma das alegrias da minha vida. Dedico com prazer varias noites da minha vida ao estudo do universo.

Apesar de pequeno, o OCA vem mostrando um potencial muito grande. O Céu de Bilac realmente se mostrou incrível e mesmo com equipamentos modestos esta sendo possível alcançar resultados que me deixam muito contente.

O nome do observatório é uma homenagem ao meu pai, Nelson do Amaral, cuja ajuda foi imprescindível para a construção do OCA.